Tecnologias transformam o chorume, resíduo tóxico do lixo, em água limpa

Com mais oxigênio, as águas dos Paraíba assistem a volta de espécies que tinham desaparecido do leito do rio devido à poluição

A água do rio Paraíba está com uma qualidade melhor na região e isso permitiu o retorno de peixes que haviam desaparecido do seu leito, por causa da poluição.

“A qualidade deste rio manteve-se boa ao longo de quase toda sua extensão”, informou a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) em relatório sobre a situação do Paraíba.

A medição foi feita por meio do IQA (Índice de Qualidade das Águas) em 11 pontos monitorados no rio Paraíba no ano passado.

A situação foi considerada boa (IQA entre 51 e 79) nos trechos de Santa Branca, Jacareí, São José, Tremembé, Pindamonhangaba e Queluz. E regular (IQA entre 36 e 51) em Caçapava, Aparecida e Lorena.

Basicamente, o número mede a quantidade de oxigênio e de esgoto nas águas do rio, parâmetros que influenciam a qualidade da água.

Quanto mais oxigênio e menos esgoto, melhor a condição do rio, provocando o retorno de espécies de peixe. Em média, a quantidade de oxigênio diluído no rio Paraíba saltou de 0,5 miligrama por litro para mais de 5 mg/l nos últimos cinco anos.

“Só com a Estação de Tratamento de Esgoto Pararangaba [inaugurada na última semana], em São José, o esgoto de 170 mil pessoas deixará de ir para o rio Paraíba”, declarou o engenheiro Fernando Lourenço de Oliveira, superintendente da Sabesp no Vale do Paraíba.

Na RMVale, a companhia é responsável pelo fornecimento de água em 24 municípios e mais os quatro do Litoral Norte, que não captam água na bacia do rio Paraíba.

A empresa investiu R$ 519 milhões, entre 2011 e 2014, para aumentar a quantidade de esgoto tratado no Vale do Paraíba. O índice de coleta de esgoto em toda a região é de 97% e de tratamento, de 98%.

DESAFIO/ Mas não basta apenas tratar o esgoto. Lixo, resíduos de construção e industriais e produtos jogados no rio aumentam a poluição. Estima-se um custo de R$ 1,5 bilhão para recuperar de vez o rio Paraíba, incluindo proteção de nascentes e matas ciliares e tratamento de esgotos.

‘A poluição quase matou o rio’, diz pescador

“O cheiro de esgoto está sumindo. Antes, a gente ‘ponhava’ a rede e nada. Os peixes estão voltando agora”, conta o pescador Andrelino Ramos, 75 anos, que vive às margens do rio Paraíba desde quando usava calças curtas.

Ele mora em uma casa simples na região norte de São José, no bairro São Sebastião.

“A poluição quase matou o Paraíba”, alerta Ramos, com a sabedoria de quem conhece os segredos do rio.

Hoje, ele nota que os peixes começaram a voltar. E não é mentira de pescador.

São ribeirinhos como ele que podem comprovar a recuperação do rio Paraíba, como confirma Antônio Cardoso, 76 anos, morador de Tremembé e pescador há mais de 60 anos.

É no silêncio da canoa deslizando pelo Paraíba, na escuridão das madrugadas, que Cardoso celebra a chegada dos peixes. Ele diz que a quantidade ainda é bem inferior a obtida no passado, quando tirava até 30 quilos de peixe por dia do rio. Mas é melhor do que as redes vazias dos últimos 20 anos, quando a poluição escureceu o Paraíba. “Tiro até cinco quilos por dia”, diz ele, que criou oito filhos com a pesca.